A
aprendizagem e o currículo estão intimamente ligados, já que é no currículo que
se encontra a seleção de conteúdos, objetivos, e toda orientação necessária aos
professores sobre o que ensinar, para quê, quando e como avaliar.
A flexibilização
curricular, com toda certeza, é a boa nova para que a aprendizagem destes
alunos se efetive. A flexibilização curricular procura estabelecer uma relação
harmônica entre as necessidades apresentadas pelos alunos e o currículo,
aproximando-os, tornando o currículo dinâmico, ativo, flexível, ampliável e
alterável; e não algo novo, apenas modificável, em transformação.
Escolas vão poder decidir como organizar matérias
repetidas entre disciplinas. A flexibilização curricular avança, para já,
apenas em algumas escolas. Aos diretores dos agrupamentos agrada a
possibilidade de aprofundar a autonomia, nesta matéria. O CNE alerta: o esforço
pode ser em vão, se não incluir uma reorganização dos horários.
No 1.º ciclo, das 25 horas semanais, cinco serão dedicadas às
Expressões. A Educação Física deixa de fazer parte do grupo das Expressões, na
matriz curricular, ganhando um tempo próprio. O Inglês passa a integrar o
currículo, no 3.º e no 4.º anos. Já no 2.º ciclo, a Educação Cívica será
integrada nos tempos das Ciências Sociais e Humanas, são também integradas as
Tecnologias para a Informação e Comunicação. No Secundário, os estudantes vão
poder inscrever-se em opções de outros cursos, inclusivamente de vias
profissionais.
A grande novidade será a autonomia dada às escolas para decidir sobre a fusão de disciplinas, realização de semanas temáticas, projetos interdisciplinares ou cadeiras semestrais. Apesar das mudanças, os tempos e os programas das disciplinas não vão ser alterados, garante o Ministério da Educação (ME). A flexibilização curricular é antes uma redefinição das “aprendizagens essenciais”.
A grande novidade será a autonomia dada às escolas para decidir sobre a fusão de disciplinas, realização de semanas temáticas, projetos interdisciplinares ou cadeiras semestrais. Apesar das mudanças, os tempos e os programas das disciplinas não vão ser alterados, garante o Ministério da Educação (ME). A flexibilização curricular é antes uma redefinição das “aprendizagens essenciais”.
Racionalizar matérias repetidas
Há matérias que se repetem em várias disciplinas. Acontece entre História e Geografia ou Biologia e Física e Química. Flexibilizar os currículos pode significar organizar melhor o tempo dispensado em cada disciplina a tratar os mesmos temas. É o que defende Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE). “Se os conselhos de turma conseguirem racionalizar em termos de tempo e matérias, poder-se-á ganhar tempo”, disse em declarações ao Jornal de Notícias (JN). A instabilidade do corpo docente pode, no entanto, causar entraves ao processo. “Como posso garantir a continuidade do projeto se para o ano tiver metade de professores novos na escola?”
Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores (ANDAEP), acredita que a flexibilização pode ser um passo para mais autonomia nas escolas. Boa notícia, foi a confirmação de que o processo avançará no primeiro ano de cada ciclo (1.°, 5.°, 7.° e 10.° ano) e apenas em algumas escolas. “É uma grande oportunidade” para as escolas e para o Governo dar, finalmente, “efetiva autonomia” aos agrupamentos, disse ao JN.
Nova organização de horários
A flexibilização curricular pode, no entanto, ser um esforço sem resultado caso não haja uma nova organização de horários e atividades escolares, alerta o Conselho Nacional de Educação (CNE), no estudo “Organização Escolar: O Tempo”, divulgado esta semana.
“Se hoje existe uma maior preocupação com a ‘flexibilização’ e a ‘diferenciação’ curricular e pedagógica, seria positivo que se atendesse à forma como se organiza o tempo escolar”. Lê-se no documento, cuja introdução é assinada pelo presidente do CNE, o ex-ministro da Educação David Justino, que diz ainda que “flexibilizar e diferenciar o desenvolvimento curricular, sem que exista capacidade de inovação e organização dos horários e do planeamento das atividades letivas e não letivas ao longo do ano, poderá ser um esforço cujos efeitos esperados poderão ser anulados pela forma como se afeta a multiplicidade dos tempos às aprendizagens”.
Mais tempo ou melhor tempo?
Mais tempo na escola não significa melhor tempo, defendem os autores deste estudo. Do mesmo modo, um curriculum mais denso de conteúdos poderá não significar uma melhor aprendizagem.
“Cargas horárias concentradas em alguns dias da semana, blocos extensos da mesma disciplina, má afetação ou limitação dos tempos de recreio, poderão ter incidência relevante no comportamento dos alunos, na sua capacidade de concentração, na disponibilidade para aprender ou mesmo na sua saturação pelo cansaço.”
O estudo faz um levantamento de dados recolhidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que mostram que o tempo mínimo obrigatório nos primeiros anos de escolaridade coloca Portugal acima da média da OCDE (4932 horas, em comparação com 4621 horas), enquanto nos ciclos seguintes o país (com 2675 horas) fica aquém da média da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (2919 horas).
“Esta constatação permite sugerir que existe algum desequilíbrio na distribuição dos tempos letivos com uma carga horária excessiva, em comparação com os restantes países, nos primeiros ciclos de escolaridade e deficitária nos ciclos seguintes”, lê-se no relatório, no qual se explica que este desequilíbrio em Portugal se deve à carga horária de ensino não obrigatório no 1.º ciclo (1303 horas) que o coloca entre os países que apresentam maior número total de horas neste nível de ensino.
Disciplinas de maior ou menor esforço
O estudo identifica também “algum desequilíbrio” entre disciplinas que exigem maior ou menor esforço cognitivo e de concentração: “À desejável alternância entre estes dois tipos de disciplinas, opõe-se a recorrente concentração em alguns períodos do dia ou em alguns dias da semana”.
A introdução ao estudo, assinada por David Justino, faz uma chamada de atenção para os perigos da chamada “escola a tempo inteiro”: “Mesmo que a ideia possa corresponder a uma necessidade social a que a escola não poderá ficar indiferente, tal não pode transformar-se em ‘sala de aula a tempo inteiro’, situação que poderá ter como consequência menos bem-estar, ambientes adversos à missão da escola, mais indisciplina, numa palavra, mais insucesso escolar”.
O que diz o estudo “Organização Escolar: O Tempo” do Conselho Nacional de Educação sobre a organização do tempo escolar?
Calendário
O número médio de dias de aulas ao longo do ano, no conjunto dos países da OCDE, é de 185 dias para os alunos do 1.º e 2.º ciclos e de 184 para os do 3.º ciclo. Os valores relativos a Portugal são, respetivamente, 180 e 178, ligeiramente abaixo da média da OCDE. Porém, importa a forma como esses dias são distribuídos ao longo do ano, nomeadamente a duração das pausas e do período de férias do Verão: Portugal está entre os países com maior duração das férias de Verão, mas com pausas letivas em menor número e de duração mais reduzida.
Uma das particularidades do caso português é o facto de apresentar maior número de dias de aulas nos primeiros ciclos de escolaridade e menor número nos ciclos seguintes. Esta característica desafia o princípio generalizado de que o número de dias de aulas deverá aumentar à medida que se progride na idade e nos trajetos escolares
Tempo letivo
Portugal revela uma elevada concentração do tempo de ensino em domínios considerados estruturantes (leitura, escrita e literatura; matemática; e estudo do meio), integrando o terço de países considerados com maior concentração no 1.º e 2.º ciclo, mas aproxima-se da média da OCDE quando falamos dos ciclos seguintes (3.º ciclo). Como fator distintivo, Portugal apresenta-se como o único país que confere idêntica distribuição das cargas horárias da leitura, escrita e literatura e da matemática no 1.º, 2º e 3º ciclo horários ciclos.
Cerca de 73% das escolas e agrupamentos da rede escolar pública recorrem aos tempos letivos de 45 minutos.
A média de tempo diário de permanência na escola varia entre 5 horas e 26 minutos e 6 horas e 19 minutos nas turmas do 5.º ano, e 4 horas e 55 minutos e 5 horas e 57 minutos nas turmas de 9.º ano, consoante os dias da semana. Em ambos os anos de escolaridade os alunos poderão permanecer na escola mais de oito horas num só dia, não contando com o tempo que os alunos passam na escola e que não faz parte do seu horário.
Nota: O estudo tem em conta como amostra 1264 horários do 5.º ano de escolaridade e 1119 do 9.º ano, selecionados entre 231 unidades orgânicas (escolas e agrupamentos de escolas) da rede escolar pública
Flexibilização curricular avança este ano em escolas que queiram aderir
Educação Física e expressões artísticas reforçadas no
1.º ciclo, mas alunos terão no máximo 25 horas de aulas. Atualmente, podem
chegar às 27 no 3.º e 4.º anos
A anunciada
flexibilização curricular avançará mesmo no próximo ano letivo em escolas que
se voluntariem para começar a aplicar as mudanças. Quer isto dizer que a partir de setembro as escolas selecionadas terão liberdade para
gerir até 25% do currículo. E o que é que isto significa? Que a partir dos
tempos fixados pelo Ministério para cada disciplina – e que mantêm no essencial
as alterações introduzidas por anterior ministro Nuno Crato – um quarto do
total dessas horas (cerca de 390 minutos por semana no caso
do 2.º e 3.º ciclos do básico) pode será trabalhado pelas escolas de diferentes
formas que não a aula tradicional dada por um professor.
Entre o
cenário mais otimista de que a flexibilização curricular poderia avançar já em
setembro em todas as escolas ou apenas nalgumas, sob a forma de projeto piloto,
a tutela optou por este último.
Obs: não foi adiantado o número preciso de escolas
que vão avançar com a flexibilização curricular nos anos iniciais de ciclo
(1.º, 5.º, 7.º e 10.º)
O que está definido para já é que no âmbito
desta “flexibilização” curricular, as escolas poderão, por exemplo, dedicar
toda uma semana a um tema que envolva todas as disciplinas; ou alocar parte do
tempo de uma disciplina ao desenvolvimento de um projeto; ou ainda juntar as
horas de duas ou três disciplinas e desenvolver o ensino através de um trabalho
gerido de forma articulada pelos respectivos professores dessas matérias. É nestes momentos que deverão também ser trabalhadas as 10
competências incluídas no Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória,
ainda em discussão.
Ou seja, as mudanças vão depender essencialmente
da vontade e capacidade dos docentes de cada turma se organizarem de outra
forma e porem de pé atividades com outros colegas ou mais experimentais e
participativas do que aulas expositivas.
Estas escolas-piloto poderão ainda organizar
disciplinas por semestres. Por exemplo, se
Geografia tiver 90 minutos por semana ao longo do ano, poderá passar a 180 por
semestre. O tempo dedicado à cadeira é precisamente o mesmo. Mas o
professor vê diminuído o número de turmas que leciona em simultâneo (em vez de
sete poderá ter três, por exemplo). E os alunos dedicam-se a menos disciplinas
por semestre, explica João Costa. No semestre seguinte, em vez de Geografia,
passariam a ter História nos mesmos moldes.
NOVAS DISCIPLINAS
Ainda no que respeita à área das ciências
sociais e humanas no 2.º e 3.º ciclos do básico (onde se incluem História e
Geografia), o Ministério anunciou que será aí que será integrada a nova área da
“cidadania e desenvolvimento sustentável”.
A tutela garante que haverá um “reforço global
das ciências humanas e sociais”, mas guarda para mais tarde a divulgação da
“proposta concreta de matrizes”, isto é, da grelha com os tempos atribuídos a
cada área. As matrizes “estão a ser trabalhadas com um conjunto de diretores” e
serão “divulgadas oportunamente”, explica.
Outra novidade anunciada prende-se com a
distribuição “por todos os anos da Área de Tecnologias de Informação e
Comunicação”. Ou seja, as chamadas TIC passarão a estar incluídas também no
horário dos alunos do 2.º ciclo do ensino básico e não apenas do 3.º ciclo.
No caso dos alunos mais novos (1.º ciclo do
básico) também há mudanças. Educação física e as
expressões artísticas passam de um mínimo de três horas para cinco por semana.
No 3.º e 4.º anos, o tempo total de aulas não deverá exceder as 25 horas. Atualmente
pode ir até às 27 horas. Português e Matemática mantêm as sete horas cada.
Em relação ao ensino secundário, os alunos
passarão a poder acrescentar ao seu currículo uma disciplina de outro curso.
Por exemplo, um aluno de Línguas e Humanidades poderá também inscrever-se (na
medida da oferta que exista na escola e do seu horário) numa cadeira de
Ciências e Tecnologias.
Além do
acompanhamento e monitorização do processo ao longo de 2017/18, a OCDE irá
fazer uma “avaliação intercalar da implementação” desta flexibilização
curricular.
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